sábado, 30 de novembro de 2013

Inspirando-se: Ouvir estrelas - Olavo Bilac


Até o momento, nenhum concorrente na categoria que eu mais gosto: Poesia.
Que tristeza! Vamos lá, pessoal! Coragem!
Inspirem-se!!!



Agilize!!!

Mande o seu texto para publicação no blog.

Não deixe para última hora.

Informações no link "Apresentação".

;)

A casa mal assombrada - Jakeliny 5a.D

A terceira concorrente é a Jakeliny da 5a.D, que também nos traz um conto de terror.
É melhor ler o texto e sair correndo quando terminar!!!


A casa mal assombrada


Certo dia, eu, Jakeliny, conheci várias amigas: Abigail, de 13 anos, Heloise, 15 anos, e Emilly, 14. Marquei um dia para nos encontrarmos no Shopping.
Chegando lá, sentamos numa mesa, que eu já tinha reservado, chupamos vários sorvetes de vários sabores. Na hora de ir embora, um homem que a gente não conhecia mandou uma carta, dizendo:      
“Vão lá! Vocês terão uma grande surpresa. Na Rua Bom Tempo, numa casa velha, número 77.”
Chegando lá, a casa era muito velha, não tinha ninguém, e poucos a conheciam, nem ao menos tinham ouvido falar dessa casa. Ficamos com medo de entrar, mas logo entramos, e vimos que nada de anormal estava lá, quando, de repente, logo nos deparamos com um homem, que se identificou, dizendo:
-Sou Antônio, dono desta casa.
Sentado em uma cadeira de balanço, mal falava, daí cada uma foi para um lugar diferente. De repente, ouvimos vários gritos, falando: “Socorro, socorro!”, e todas nós, desesperadas, corremos e nos encontramos num mesmo lugar. Todas estavam bem, mas, faltava a Emilly. Daí o desespero foi maior. Começamos a chorar, sem saber onde ela estava. Saímos em busca da Emilly e, no caminho, encontramos um homem que nos perguntou:
- O que está acontecendo com vocês crianças?                                                          
Daí, a gente respondeu:
- Estamos procurando nossa amiga que sumiu.                                                          
O velhinho nada respondeu, ficou quieto em sua cadeira de balanço, só fazendo ruídos:
- TROK, TROK.                                                                      
Então o velhinho disse:                                                                                 
 -Vão lá, que vocês vão encontrar sua amiguinha, na casa velha, rua Fiorino, número 88.                                                                                                 
Chegando lá, entramos desesperadas à procura da amiga. De repente, encontramos a Emilly. Estava toda amarrada, presa por cordas bem grossas, com uma fita na boca e com um dedo cortado. Entramos em desespero. 
Voltamos para a mesma casa, mas o senhor não estava mais lá. Saímos correndo, encontramos outra pessoa, que perguntou:
- O que aconteceu com vocês crianças?                                                                    
Nós contamos tudo para ele, sobre o que tinha acontecido, e o senhor nos respondeu:                    -Não, nesta casa não mora ninguém com esse nome, o dono dela já morreu, faz muito tempo... O nome dele era Sr. Antônio, ele foi morto na cadeira de balanço com um tiro no coração.
Mas nós falamos:
- Não, senhor, ele estava lá, ele que mandou a gente ir a outra casa buscar nossa amiga que tinha sumido.
- Olhem, crianças, cuidado, não acreditem em tudo o que as pessoas falam por aí, a maldade pode estar por perto, por isso, tomem muito cuidado, não andem sozinhas por aí, porque as pessoas só falam isso para vocês acreditarem, e caírem, e fazerem alguma coisa com vocês.


Jakeliny – 5ª.D

O Hospital - Eduardo 5a.D

O segundo concorrente, Eduardo da 5a.D, escreveu um conto de terror horripilante!
Prepare-se para gritar!


O Hospital

Existia um hospital em São Paulo que as pessoas morriam adoidado. Quando a Prefeitura descobriu, em 1969, foi fechado rapidamente. Mas ainda ficou uma pessoa lá, o zelador, que ficava até tarde.
Um dia, o zelador convidou algumas pessoas para irem com ele ao hospital. Foram com ele: Kauany, Igor, Eduardo e Gabriel, mais chamado de Messias. O zelador disse aos meninos para ficarem no hospital. O Messias disse:
- Zelador, posso colocar algumas câmeras por aí?
E o zelador responde:
- Pode, mas tenha cuidado por favor, ou sua mãe me mata.
- Tudo bem.
O zelador saiu do hospital e sem querer, sem eles saberem, tranca a porta de saída.

***
Messias diz:
- Eduardo e Kauany, vão à frente, e coloquem as câmeras, levem esses rádios e falem quando vocês terminarem. Eu e o Igor vamos arrumar as coisas, beleza?
- Beleza! – responde Eduardo.  
- Beleza! – diz Igor.
- Tudo bem. – diz Kauany.
Eduardo e Kauany foram colocar as câmeras quando Kauany diz:
- Edu, preciso ir ao banheiro, por favor...
- Tá bom. – diz Eduardo.
Eduardo tenta falar com Messias, mas Messias não fala nada.
- Messias, você está aí? Fale alguma coisa.
- ...
Quando Eduardo ia falar com Messias de novo, ouve um grito. O grito vinha do banheiro, e Eduardo fala:
- Só pode ser a Kauany!
Quando ele chegou lá, viu a Kauany chorando e com um pequeno corte no pulso.
- O que aconteceu, Kauany, tá tudo bem?
E Kauany mostra o pulso cheio de sangue e diz:
- Eduardo, me ajude!
Eduardo correu rapidamente para a entrada onde eles estavam e grita:
- Galera, me ajude!
Messias diz:
- O quê?
- Peguem os curativos!
- Por que, o que aconteceu? – perguntou Igor.
- Eu não sei, eu encontrei a Kauany com o pulso cortado e cheio de sangue – responde Eduardo.
Eles vão até lá, e Kauany diz:
- Eu não estou bem – e desmaia.
Eduardo fala:
- Rápido, ela pode morrer com a perda de sangue!
- Vamos pegar alguma coisa pesada para quebrar essa porta – diz Messias.
- Vamos primeiro salvar a Kauany! – diz Eduardo.
Do nada, a lâmpada foi ficando escura, e todos, assustados. Uma menina aparece e pede socorro. Eduardo pergunta:
- Quem é você?
- Yasmim – e aparece, toda assustada, caindo da escada.
Eduardo encontra uma lanterna e ficou abismado quando viu Yasmim com camisa de força e venda.
 Quando Eduardo chama Messias, encontrou Igor, que se lembrou de uma história que o zelador tinha contado, que uma menina tinha morrido no banheiro com os pulsos cortados.
- Messias, Messias! – e Eduardo não achou o amigo.
Igor diz:
- Mano, estou assustado.
- Eu também. A Kauany já está bem? – pergunta Eduardo.
- Sim, ela vai acordar daqui a pouco. Espere aí, você não tinha acionado as câmeras?
- Sim, por quê?
- Espere.
Igor foi ver as câmeras e começou a ver coisas bem estranhas. Eles tinham colocado seis câmeras.
Na câmera 1, foi detectado passos e pessoas sendo puxadas.
Na câmera 2, foi detectado movimento de duas pessoas. A câmera também conseguiu tirar duas fotos da cara deles. As fotos ficariam prontas em dez minutos e trinta segundos.
Na câmera 3, foi feito um vídeo para mostrar.
Na câmera 4, duas pessoas foram mortas e penduradas nas paredes.
Na câmera 5, Messias perdido, sendo morto por um golpe muito forte.
Igor e Eduardo dizem:
- ...
- ...
Igor e Eduardo ficaram sem palavras.
Yasmim estava ajudando Kauany, que tinha acordado.
Eduardo diz:
- Tá todo mundo bem?
- Sim – todos respondem.
- Então, vamos embora. Igor, o que mais o zelador falou?
- Ele falou que tem alguns túneis lá embaixo.
- Beleza, então vamos para lá. Vai na frente, aí a gente te segue.
- Tá.

***

Igor fala:
- Chegamos.
Olhando para todos, Eduardo avista uma pessoa e diz:
- Igor, atrás de você!
- O quê? Ah, ah, ah! – e correu.
Um monstro, que estava atrás dele, corria super rápido e o pegou. Igor grita:
- Socorro, ele tá me mastigando!
Eduardo fala:
- Igor!!! Fala alguma coisa!
Eduardo, Kauany e Yasmim correm atrás dele. Igor não estava falando e os três estavam preocupados.
Igor então diz:
- Ah, ah, ah.
- O que é isso?
Igor sai voando por cima dos três e explode.
- Não, não! – diz Eduardo, chorando.
Kauany diz:
- Vamos, Edu, vamos sair daqui!
Eduardo diz:
- Olha a saída ali, corram! Vão, corram o mais rápido possível.
E Yasmim diz:
- Vão vocês, sejam felizes, vão.
- Por quê?
- Só corram.
E Eduardo ouve gritos saindo lá de trás.
- Corre, Yasmim!
-Não.
- Vamos então, Kauany.
- Sim.
- Olhe, uma porta, vem, passe por ela e tranque-a.
- Tá.
Quando eles passaram pela porta e trancaram, viram uma escada. Eles subiram e viram que era uma cidade e pediram um táxi para irem a suas casas.

Pensa que acabou? Kauany e Eduardo ficaram ricos com as notícias do hospital e eles sempre ouvem vozes que só na próxima história que eu vou contar.


Eduardo 5ª.D

A diferença entre Câncer Físico e o Câncer Emocional - Gustavo 5a.B

O primeiro texto do concurso é o do Gustavo da 5a.B.
Um conto emocinante... venha conferir!!!


A diferença entre o Câncer Físico e o Câncer Emocional

Havia uma menina chamada Taína. Ela era sociável, bem-humorada, divertida, valorizava seus longos cabelos morenos e tinha um grande sonho, o de ser médica pediatra. Mas era indisciplinada, não estudava para as provas, não lia livros, não tinha garra. Os amigos não davam nenhum crédito quando dizia que ia ser pediatra.
A bela e alegre Taína vivia sem grandes tempestades, até que passou pelo mais dramático vendaval, pela mais angustiante experiência. Enquanto brincava e corria na praia num final de semana com seus amigos, sentiu tonturas e levou subitamente um tombo na areia.
Os amigos deram risadas pensando que ela tinha tropeçado. Mas não tropeçou, ela tinha desmaiado. Demorado um tempo, ela não se levantava. Os amigos a levaram ao Pronto-socorro, e aí veio o diagnóstico que mostrou que Taína tinha Leucemia. Taína e seus amigos ficaram com cara de espanto, não acreditavam naquilo.
Quando Taína foi contar para seus pais o que tinha acontecido, ficou muito nervosa, mas sentou-se junto com os pais e contou tudo. Os pais de Taína foram procurar uma clínica para ajudá-la.
Quando Taína soube que tinha que raspar a cabeça, correu para o banheiro e começou a chorar. Andando no hospital, viu crianças rindo muito, mas todas carecas. Taína perguntou a uma das meninas que ali estavam:
- Como você se sente sem cabelos, sente falta?
E a menina disse:
- No começo, chorei muito, mas depois soube que foi para o meu bem e me acostumei.
Taína, que tinha o sonho de ser pediatra, ficou impressionada com a resposta da garota.
No outro dia, na sala de aula, teve mais disposição para fazer a lição. Até os professores acharam estranho o comportamento da menina, pois não sabiam da doença. No mesmo dia, Taína teve que raspar a cabeça, chorando muito, com coragem e, muito pensativa, falou quando se olhou no espelho:
- O que as pessoas da escola vão pensar de mim?
Quando chegou na sala de aula, todos ficaram espantados. Taína ficou abalada. Mas no outro dia, quando chegou na sala, mais que a metade de seus amigos tinham raspado a cabeça. Taína ficou muito alegre.
Passaram-se cinco anos e Taína completou a faculdade de Pediatria. E ela entendeu que o câncer físico que a estava matando pouco a pouco era diferente do câncer emocional de outras pessoas que iam morrendo pelo que pensavam e pelo que sentiam.



Gustavo 5ª. B

sábado, 23 de novembro de 2013

Inspirando-se: Bom Dia!!

Bom dia!!
Carlos Drummond de Andrade

Bom dia: eu dizia à moça
que de longe me sorria.
Bom dia: mas da distância
ela nem me respondia.
Em vão a fala dos olhos
e dos braços repetia
bom-dia a moça que estava
de noite como de dia
bem longe de meu poder
e de meu pobre bom-dia.

Bom-dia sempre: se acaso
a resposta vier fria ou tarde vier,
contudo esperarei o bom-dia.
E sobre casas compactas
sobre o vale e a serrania
irei repetindo manso
a qualquer hora: bom dia.
Nem a moça põe reparo
não sente, não desconfia
o que há de carinho preso
no cerne deste bom-dia.

Bom dia: repito à tarde
à meia-noite: bom dia.
E de madrugada vou
pintando a cor de meu dia
que a moça possa encontrá-lo
azul e rosa: bom dia.

Bom dia: apenas um eco na mata
(mas quem diria)
decifra minha mensagem,
deseja bom o meu dia.
A moça, sorrindo ao longe
não sente, nessa alegria,
o que há de rude também
no clarão deste bom-dia.
De triste, túrbido, inquieto,
noite que se denuncia
e vai errante, sem fogos,
na mais louca nostalgia.
Ah, se um dia respondesses
Ao meu bom-dia: bom dia!
Como a noite se mudara
no mais cristalino dia!

Inspirando-se: "E agora, José?" De Carlos Drummond, recitado por Paulo Autran

Inspirando-se: Saber Viver

Saber Viver

Cora Coralina


Não sei... se a vida é curta

ou longa demais para nós, 
mas, sei que nada
do que vivemos tem sentido, 
se não tocamos o coração das pessoas.



Muitas vezes basta ser:
o colo que acolhe, 
o braço que envolve,
a palavra que conforta,
o silêncio que respeita,
a alegria que contagia,
a lágrima que corre,
o olhar que acaricia,
o desejo que sacia,
o amor que promove.



E isso não é coisa de outro mundo,
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela não
seja nem curta, nem longa demais,
mas que seja intensa, verdadeira,
pura enquanto ela durar...





Inspirando-se: O Homem cuja orelha cresceu

O homem cuja orelha cresceu
Ignácio de Loyola Brandão

Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da noite, estava fazendo hora-extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35 anos, ganhava pouco, reforçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a mão. Deviam ter uns dez centímetros. Eram moles, como de cachorro. Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. Ficou só olhando. Elas cresciam, chegavam a cintura. Finas, compridas, como fitas de carne, enrugadas. Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse. Mas não encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas. O armário de material também. O melhor era correr para a pensão, se fechar, antes que não pudesse mais andar na rua. Se tivesse um amigo, ou namorada, iria mostrar o que estava acontecendo. Mas o escriturário não conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório. Colegas, não amigos. Ele abriu a camisa, enfiou as orelhas para dentro. Enrolou uma toalha na cabeça, como se estivesse machucado.

Quando chegou na pensão, a orelha saia pela perna da calça. O escriturário tirou a roupa. Deitou-se, louco para dormir e esquecer. E se fosse ao médico? Um otorrinolaringologista. A esta hora da noite? Olhava o forro branco. Incapaz de pensar, dormiu de desespero.

Ao acordar, viu aos pés da cama o monte de uns trinta centímetros de altura. A orelha crescera e se enrolara como cobra. Tentou se levantar. Difícil. Precisava segurar as orelhas enroladas. Pesavam. Ficou na cama. E sentia a orelha crescendo, com uma cosquinha. O sangue correndo para lá, os nervos, músculos, a pele se formando, rápido. Às quatro da tarde, toda a cama tinha sido tomada pela orelha. O escriturário sentia fome, sede. Às dez da noite, sua barriga roncava. A orelha tinha caído para fora da cama. Dormiu.

Acordou no meio da noite com o barulhinho da orelha crescendo. Dormiu de novo e quando acordou na manhã seguinte, o quarto se enchera com a orelha. Ela estava em cima do guarda-roupa, embaixo da cama, na pia. E forçava a porta. Ao meio-dia, a orelha derrubou a porta, saiu pelo corredor. Duas horas mais tarde, encheu o corredor. Inundou a casa. Os hospedes fugiram para a rua. Chamaram a polícia, o corpo de bombeiros. A orelha saiu para o quintal. Para a rua.

Vieram os açougueiros com facas, machados, serrotes. Os açougueiros trabalharam o dia inteiro cortando e amontoando. O prefeito mandou dar a carne aos pobres. Vieram os favelados, as organizações de assistência social, irmandades religiosas, donos de restaurantes, vendedores de churrasquinho na porta do estádio, donas-de-casa. Vinham com cestas, carrinhos, carroças, camionetas. Toda a população apanhou carne de orelha. Apareceu um administrador, trouxe sacos de plástico, higiênicos, organizou filas, fez uma distribuição racional.

E quando todos tinham levado carne para aquele dia e para os outros, começaram a estocar. Encheram silos, frigoríficos, geladeiras. Quando não havia mais onde estocar a carne de orelha, chamaram outras cidades. Vieram novos açougueiros. E a orelha crescia, era cortada e crescia, e os açougueiros trabalhavam. E vinham outros açougueiros. E os outros se cansavam. E a cidade não suportava mais carne de orelha. O povo pediu uma providência ao prefeito. E o prefeito ao governador. E o governador ao presidente.

E quando não havia solução, um menino, diante da rua cheia de carne de orelha, disse a um policial: "Por que o senhor não mata o dono da orelha?"


O texto acima foi extraído do livro "Os melhores contos de Ignácio de Loyola Brandão", seleção de Deonísio da Silva, Global Editora — São Paulo, 1993, pág. 135.

Inspirando-se: O homem que viu o lagarto comer seu filho

O homem que viu o lagarto comer seu filho

Ignácio de Loyola Brandão
para Ligia Sanchez


    Era uma noite de terça-feira, e eles viam televisão deitados na cama. Quase uma da manhã, estava quente. Ele levantou-se para tomar água. A casa silenciosa, moravam num bairro tranqüilo. Não havia ruídos,poucos carros. Ao passar pelo quarto das crianças, resolveu entrar. Empurrou a porta e encontrou o bicho comendo o menino mais velho, de três anos e meio. Era semelhante a um lagarto e, na penumbra, pareceu verde. Paralisado, não sabia se devia entrar e tentar assustar o animal, para que ele largasse a criança. Ou se devia recuar e pedir auxílio. Ele não sabia a força do bicho, só adivinhava que devia ser monstruosamente forte. Ao menos, forte demais para ele, franzino funcionário. E meio míope, ainda por cima. Se acendesse a luz do corredor, poderia verificar melhor que tipo de animal era. Mas não se tratava de identificar a raça e sim de salvar o menino. Ele tinha a impressão de que as duas pernas já tinham sido comidas, porque os lençóis estavam empapados de sangue. E a calça do pijama estava estraçalhada sob as garras horrendas do bicho repulsivo. Como é que uma coisa assim tinha entrado pela casa adentro? Bem que ele avisava a mulher para trancar portas. Ela esquecia, nunca usava o pega ladrão. Qualquer dia, em vez de um bicho, haveria um homem roubando tudo, a televisão colorida, o liquidificador, as coleções de livros com capas douradas, os abajures feitos com asas de borboletas, tão preciosos. Pensou em verificar as portas, se estavam trancadas. Porém, percebeu um movimento no animal, como se ele tentasse subir para a cama. Talvez tivesse comido mais um pedaço do menino. Precisava intervir. Como? Dando tapinhas nas costas do lagarto — não lagarto? Não tinha antas em casa e o cunhado sempre dizia que era coisa necessária. Nunca se sabia o que ia acontecer. Ali estava a prova. Queria ver a cara do cunhado, quando contasse. Não ia acreditar e ainda apostaria duas cervejas como tal animal não existia. Pode, um lagartão entrar em casa através de portas fechadas e comer crianças? Olhou bem. Comer crianças não era normal, nem certo. Devia ser uma visão alucinada qualquer. Não era, O bicho mastigava o que lhe pareceu um bracinho e o funcionário teve um instante d ternura ao pensar naqueles braços que o abraçavam tanto, quando chegava do emprego à noite. Urna faca de cozinha poderia ser útil? Mas quanto o bicho o deixaria se aproximar, sem perigo para ele, o homem? Tinha de impedir o lagarto de chegar à cabeça. Ao menos isso precisava salvar. Não conseguia dar um passo, sentia-se pregado à porta. Preocupava-se. Todavia não se sentia culpado. Era uma situação nova para ele. E apavorante. Como reagir diante de coisas novas e apavorantes? Não sabia. Preferia não ter visto o lagarto, encontrar a cama vazia, as roupas manchadas de sangue. Pensaria em seqüestro ou coisas assim que lia nos jornais. Seqüestro o intrigaria, uma vez que ganhava pouco mais de dois salários mínimos e não tinha acertado na loteria esportiva. Era apenas um funcionário dos correios que entregava cartas o dia todo e por isso tinha varizes nas pernas. Se gritasse, o lagarto iria embora? Continuou pensando nas coisas que podia fazer, até que a mulher chamou, uma, duas vezes. Depois ela gritou e ele recuou, sempre atento para saber quanto o bicho tinha comido do filho. À medida que recuou perdeu a visão do quarto. Sentindo-se aliviado, pelo que não via. A mulher chamava e ele pensou: o menino não chorou, não deve ter sofrido. Voltou ao quarto ainda com esperança de salvá-lo pela manhã e decidiu nada dizer à mulher. Apagaram a luz, ele se ajeitou, cochilou. Acordou sen tindo um cheiro ruim e quando abriu os olhos viu sobre seu peito a pa ta, parecida com a do lagarto. Paralisado, não sabia se devia tentar as sustar o animal, ou tentar sair da cama e pedir auxílio. Pelo peso da pa ta, o bicho devia ser monstruosamente forte. Ao menos, forte demais para ele, franzino funcionário. Aí se lembrou que tinha dois sacos de cartas a entregar, era época de Natal e havia muitos cartões das pessoas para outras pessoas dizendo que estava tudo bem, felicidades. Tinha que tirar este bicho de cima. Não, hoje não haveria entregas. Nem amanhã, por muito tempo. O lagarto estava com metade de sua perna dentro da boca.


O texto acima foi extraído do livro "Os melhores contos de Ignácio de Loyola Brandão", seleção de Deonísio da Silva, Global Editora — São Paulo, 1993, pág. 117